O Cidadão Ilustre

Opa, voltando aqui mais uma vez. E agora para tratar de um assunto muito bom: Filme. Não sei se posso me considerar um cinéfilo, mas procuro consumir diferentes estilos de filmes, mais pelo gosto mesmo do que para ser crítico. Simplesmente pelo prazer de acompanhar um bom longa.

Recentemente assisti a um filme argentino chamado “O Cidadão Ilustre”. O desenrolar da história monta o personagem central, Daniel Mantovani (Oscar Martínez) – ganhador do prêmio Nobel de literatura no filme – , como alguém decepcionado com o que precisou fazer com o modo de trabalhar a cultura, mais necessariamente a sua arte.

A trama parece linear inicialmente. Entende-se a premissa que, de começo, parece um pouco comum em filmes do estilo. Um autor preocupado quando sua posição pareceu confortável para agradar, em contraposição a respeito do trabalhar de sua criatividade. O quanto isso é ético, respeitoso e honesto para consigo mesmo.

Não se sabe se esse sentimento irá ser a força motriz que guiará todos os seus atos, mas há uma mescla dessa espécie de desanimo sentido no começo do filme.

Por se dividir em capítulos, parece uma leitura retratada e categorizada a partir de uma obra. A narrativa é desenvolvida toda por Mantovani, um autor literário que pretende, ao menos de forma inicial, ficar recluso quanto às coisas que acontece depois do prêmio.

Quando ele recebe um convite para a sua cidade natal – Salas –, isso o faz ficar disposto a voltar, pois faz quatro décadas que ele mora na Europa. Lá, pode-se ver um pouco mais do personagem central. Através dele é abordado temas sobre ó que é arte, como se faz para ser criativo, etc. Fora os eventos que acontece com o escritor. Seu encontro com personagens que fizeram parte sua vida em Salas e possivelmente sua fonte de inspiração também.

Com isso ele tem uma série de agendas para cumprir na cidade, mesclado situações que passa a viver depois de sua volta. Um dos conflitos retratados acontece quando ele é designado para julgar uma competição de arte, onde, segundo seu crivo, desagrada toda uma classe de artistas locais. Aqui pode ser visto a divergência entre o que pode ser (ou não) uma assoberbada sofisticação europeia contra um tipo de orgulho nacional estranho, pois Daniel é acusado de se consagrar à custa de falar mal de sua comunidade.

 

Mas Mantovani é essa coisa saudosista dos momentos que viveu em Sala, ao passo que é cidadão do mundo. Acredita muito na cultura, porém, detesta como as pessoas tratam este campo da sociedade. Aliás, ele não é submisso a direcionamentos determinados e consagrados. Sua inteligência é respeitada até quando suas ações não são consideradas muito corretas (levando em consideração até o próprio prêmio Nobel que ganhou).

Peças de momentos episódicos são montadas muitas vezes em Salas: Aluna de uma de suas aulas é filha de um romance esquecido. Evento de arte traz à tona se a valorização do escritor, pela cidade, vale a pena ou não. O prefeito que chama o artista, mas ao mesmo tempo não quer desagradar o seu eleitorado, porém, com risco de desrespeitar Mantovani, etc. Todas essas coisas fazem com que sua permanência em Salas seja questionada a todo momento.

 

Falando em eventos episódicos, me vem à mente agora outro momento bastante significativo. Já em solo argentino e a caminho de Salas, o filme mostra, em dois trechos, duas situações a serem tratadas pelo espectador quanto a arte de Mantovani (já viu que isso é tema recorrente no filme, ne? rsrs). Situação um: no caminho do aeroporto para o interior, o carro quebra e quando escurece ele e o motorista que o leva fazem uma fogueira com o seu livro para se aquecerem. Situação dois: O motorista usa como papel higiênico a obra (sem trocadilhos infames) de Daniel, o que vai de encontro a sua altivez.

À exemplo do que foi mencionado,o filme é especial porque faz com que sejam levantadas questões a quem assiste. Questiona-se qual a razão de certos paradigmas. Como a forma que a arte realmente deve ser tratada (na visão de um vaidoso escritor). O que credibiliza ou destrói um artista – acima de tudo, o poder trabalhar com aquilo que acredita como uma obra importante ou que serve somente para ser “palatável”, e isso é representado em grande estilo na tribuna de discurso do prêmio Nobel.

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A cena final é simbólica, muito significativa. Existem dois momentos em que a visão é a mesma: Uma quando chega a Salas e outra, digamos, quando sai da cidade. A primeira está de dia, a segunda está muito escura. Antes da saída há uma revisitação, por assim dizer, de personagens a qual houve algum tipo de interação substancial para a trama.

Logo após há o arremate. Mantovani está numa exclusiva e a partir de duas perguntas (que lembro no momento) faz ótimas reflexões sobre o que é a realidade e seus fatos. Como ocorrem os eventos na vida de um artista.

Para criar é preciso um lápis, papel e a vaidade. Pelo menos é dessa forma que o escritor de livros, com inspiração numa cidade interiorana, percebe o mundo. Será que isso o desqualificaria como um escritor, o coloca na mediocridade ou o faz ser uma pessoa que, por causa de sua visão de mundo, consiga surpreender? (vide seu discurso inicial na premiação).

Assim, despede-se (de alguma forma) Daniel Mantovani, o cidadão ilustre de Salas.

 

 

 

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Sobre o autor | Website

Gosta de ler e de games - defendeu com coragem o mega drive perante seus amigos nintendistas. Inserido numa cultura nerd, geek e qualquer outro adjetivo que remeta ao universo de ficção,fantasia e jogos; enfim, gasta uma parte do tempo em Final Fantasy IX e a outra parte em GOT. Também gosta de assuntos relacionados à tecnologia e aprendizagem: nada como um apetrecho tecnológico, por exemplo, o raspberry pi para hackear a educação.Acha que modificar métodos, apresentar novos meios e aprender uns com os outros pode ser considerado uma missão de vida.

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