O lar das crianças peculiares

 

 

Filme baseado no livro de Ransom Riggs, primeiro de uma trilogia. O lar das crianças peculiares foi dirigido por Tim Burton. Particularmente gosto das releituras, por assim dizer, que ele faz. Tudo bem que ele usa o Johnny Depp para tudo,rsrs. Mas nesse caso não.

Vemos Jake um menino um tanto quanto deslocado e um pouco desligado do ambiente em que vive.  Há também pouca interatividade dele com seus pais. Na verdade, se vê uma falta de ligação maior quando Jake, em um momento do filme, está em uma ilha com seu pai e o mesmo não parece tão preocupado com seu filho, 0u pior, ele paga para dois completos desconhecidos guia-lo até o orfanato a qual  está procurando (os dois  meninos aparentam ser quase da mesma idade).

 

Como toda maioria de filme que faz referência à alguma obra, teve que ter algumas adaptações para o longa: Poderes trocados, falta de independência de personagem, nomes mudados etc; fizeram muitos fãs do livro torcerem o nariz para o feito de Tim Burton.

Porém, acho que vale a pena ver pelo tipo de trabalho que diretor ora mencionado faz. As cenas de ambientes sombrios, o gosto pelo gótico são alguns pontos do diretor que se assemelham muito com o livro. Os personagens são bucólicos, porém, de aprendizado rápido mediante as situações e capacidade de trabalhar suas limitações para resolução de algum problema.

É o caso do filme de Alice que foi dirigido por ele. Mesma situação, uma releitura: Alice acaba por voltar ao país das maravilhas e acredita que o que está sendo vivenciado é um sonho. A certa altura ela acata a sua realidade e no final aceita e resolve sua missão que é matar o Jaguadart.

Contudo, há quem possa dizer: Mas gente, é uma adaptação!. Nesse quesito, não tem o que se discutir, porem toda adaptação também se pode fazer uma releitura. O livro já traz esse clima sinistro, meio tétrico. O que da ao diretor, já conhecido por fazer esse tipo de trabalho, digamos, um aspecto delicado de criação de poder mexer, ou seja, dar a sua “cara”.

A falta de expressão do protagonista, por assim dizer, foi outro fator colocado na mesa. Porém, mais uma vez (como uma carta de yu – gi – oh) eu evoco a Alice. Apesar de toda atividade e ação do filme a característica da personagem influência na sua forma de agir, qualquer que seja situação. É claro que vai ter mais atividade em determinadas cenas que outras, porém, a forma de exteriorizar determinados momentos – melhor dizendo, ter uma jeito intrínseco para poder agir –  precede a atividade que está sendo vivenciada. E a expressão dos personagens do Tim Burton, geralmente, segue a mesma linha. “É um aspecto que à primeira vista parece robótico, morno quase frígido”.Então, diga isso para alguns personagens como: Edward de Edward mãos de tesoura – ; Victor Van Dors de Noiva Cadáver ; Barnabas Collins de Sombras da Noite etc.Veja bem, outros filmes dele tem protagonistas com outras características. Só foi mencionado isso para dizer que não é do todo estranho Jake ser assim.

Longe de querer fazer equivalência do Jake aos outros personagens. No entanto, talvez, a falta de identificação de muitos foi a forma como o seu conflito foi trabalhado. Apesar de sua ida ao País de Gales fizesse parte do plano de Barron, ele não teve, necessariamente, um desenvolvimento gradual. Depois que consegue achar o orfanato e começou a viver Miss Peregrine e as crianças (com indas e vindas através da fenda/portal) ele viu que seu avô tinha razão. Então, abruptamente, passou para outro estágio, digamos assim.

O livro e os filmes do Tim Burton se assemelham muito na questão do uso da introspecção, do desalento e da ambiência do descontentamento  que perpassa toda a história em que o personagem vai se desenvolvendo.Assim, pelo menos é o que acontece com os longas (ter uma narrativa e no caso do lar das crianças peculiares ,uma narrativa sombria), com uma história bem amarrada da pra entregar um bom produto.

Aos que já de antemão conhecem o livro, devem (acho eu) considerar um pouco “outro olhar” para a filmagem do lar das crianças peculiares. Não se atentem as mudanças que ao primeiro momento são “gritantes”.

Peculiaridade em vez de poder e fenda temporal

Esta história não é sobre super- heróis. Apesar do fenômeno que envolve as habilidades das crianças, não se traz a tona à possibilidade salvar o mundo (apenas o mundo em que eles vivem e a si mesmos). Não há conflito interior sobre identidade (característico de quem tem grandes poderes com grandes responsabilidades, rsrs).Ou seja, não se trabalha nenhum alter ego. Na verdade Jake até fica sabendo da missão, por assim dizer, que seu avô fazia encontrando  as fendas temporais. Recurso esse necessário para ajudar o orfanato, pois os etéreos tentam descobrir esses portais para tentar achar as crianças peculiares.Mas o obvio já é sabido Jake e os peculiares lutarão com os etéreos. Mas até chegar ao embate primeiro precisa-se entender o porquê dessa espécie de rivalidade e como eterios e peculiares estão quase que proximamente ligados.

Assim em vez de poder, têm-se peculiaridades.E esse tema também é trabalhado com Jake. Você é entregue a dúvida: Além do elo que seu avo faz com o orfanato, há alguma outra ligação de Jake com eles? Seria ele um peculiar? E isso fica na cabeça um tempo considerável.

Etérios X Peculiares

Tudo começou com uma experiência sinistra que , até um determinado momento, Barron quis experimentar a possibilidade de mais poder.Não foi isso o que aconteceu.Ele e os que estavam participando do experimento provaram uma modificação inesperada e , por conseguinte, indesejável. Acabaram tornando-se os inimigos dos peculiares: os Etéreos

Contudo, Barron descobriu que comendo os olhos de um peculiar gradativamente poderia retornar a sua forma humana (serio que isto não se parece com algo que Tim Burton faria?). Desde então, alguns poucos conseguiram e retornaram a algo característico humano, mas não por completo. Para que isso aconteça é preciso muito olhos dos peculiares.

O legado de Abe

O que no início era só a ideia de querer entender quem era e tentar saber se o avô estava certo quanto a existência dos personagens de suas histórias, Jake se vê numa situação de inicial impotência para,então, assumir essa espécie de missão para com a Miss Peregrine e os peculiares, pois ele era a própria essência da história de Abe.O orfanato existia, as crianças com seus talentos existiam, Miss Peregrine era real. Então Jake era real não era mais o garoto deslocado, pois é visto que ele é parte daquele mundo. Embora vivendo na Fenda, a ameaça estava para acontecer.Qual seria a melhor escolha para Jake? Ficar e lutar ou sair da ilha e voltar ao desespero silencioso do cotidiano?

Filme, a meu ver, muito bom. Separe a pipoca aí e divirta-se.

Sobre o autor | Website

Gosta de ler e de games - defendeu com coragem o mega drive perante seus amigos nintendistas. Inserido numa cultura nerd, geek e qualquer outro adjetivo que remeta ao universo de ficção,fantasia e jogos; enfim, gasta uma parte do tempo em Final Fantasy IX e a outra parte em GOT. Também gosta de assuntos relacionados à tecnologia e aprendizagem: nada como um apetrecho tecnológico, por exemplo, o raspberry pi para hackear a educação.Acha que modificar métodos, apresentar novos meios e aprender uns com os outros pode ser considerado uma missão de vida.

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